domingo, 14 de setembro de 2008

(A)Bacaba

Comida. Um drama, um desafio, um prazer.
Uma das minhas maiores interações com o mundo.
Vejo, toco, preparo, saboreio, mastigo, degluto!
Passa horas em meu corpo, que absorve aquilo que lhe parece.
E volto a vê-la já em outra condição às vezes no banheiro.

Quem me conhece sabe que sou aficionada com comida.
Sem comer carne vermelha desde Dezembro de 2003, quando voltando do ENEB de Salvador, 2N, minha querida colega de graduação começou a me repassar toda a informação apreendida no GD (Grupo de Discussão) que havia participado.

Natal, Ano Novo, e muitos meses sem mais ter que me sujeitar a comer aquilo que nunca gostei mas não sabia.
Desde pequena, quando haviam churrascos aos finais de semana, minha mãe levava feijão e tomate para eu comer. Passei mais de 8 anos sem por também um grão de arroz na minha boca.
Arroz, feijão e bife, em definitiva, nunca me pareceram uma boa refeição.

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Quando saí de casa para estudar, a alimentação saiu da tutoria de minha mãe, e surgia a liberdade de escolher o que comer.
Minha mãe me mandava enroladinho de peito de frango com peito de peru e queijo.
Mesmo o frango, eu nunca gostei. Só comia o peito, e a coxa (sem aquela pele, por Deus!) em eventos de família.
No Natal, o peru era responsabilidade de minha mãe. Da Sadia, lavado, e temperado com laranja e alecrim. Era o prato especial para as filhas frescas que não comiam carne de porco. Essa eu sempre detestei.
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Linguiça é um troço que tentei comer apenas 3 vezes na minha vida. Odiava encarar feijoada.
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Tornar-me vegetariana para mim foi uma libertação.
Consolidada e assumida após ver o documentário A Carne é Fraca, do Instituto Nina Rosa.
Sem comer frango desde Agosto de 2005.
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Eu também nunca gostei de refrigerante. Quando obrigada a bebê-lo, era Guaraná Antártica, e ponto.
Mas minha família, comprava 2 engradados de refrigerante por mês, quando aí existiam as garrafas retornáveis de 1 litro.
Meu pai é fissurado. Hoje ele só toma diet. Mas o volume aumentou com o surgimento das PET de 2 litros. Acredito que ele consuma de 6 a 8 litros semanalmente.
Pode não ter comida na dispensa dos meus pais, mas sempre há refrí!

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Preocupados com meus maus hábitos alimentares (não gostar de refrigerante, não comer churrasco), minha mãe começou a comprar sucos concentrados.
Por anos tomei Maguary de maracujá. Os sucos sempre foram considerados caros em minha casa. E fora uns espremidos de laranja, acho que nunca vi um suco natural sendo preparado em casa.
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Não é a toa que tenho tanta celulite.
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O peixe ainda aparece na dieta: quando estou na praia, ou na beira do rio, com pescadores artesanais. Não me prepare salada de atum, muito menos sardinha.
Faziam meses que não comia. Agora, vivendo às margens de um lago no maior rio do mundo, talvez seja preciso voltar a comer.
Belisquei uns pedaços essa semana aqui no instituto.
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No fim, tudo que não for bicho morto, ou resto de bicho morto, eu como.
Adoro provar comida.
Hoje fui a feira. Queria comprar açaí, que aqui onde é produzido, se come fresco, gelado, adoçado com açúcar e com farinha ou tapioca.
Já tinha acabado, mas tinha bacaba, abacaba (Oenocarpus bacaba). Vi a cor.
Se o açaí tem cor de chocolate meio amargo, a(bacaba) tem cor de chocolate ao leite.
Fiquei curiosa, e levei. Provei esta tarde.
Foi meu refresco no almoço. Lentinhas com gergelim (trazidos de São Paulo), tomates cereja (felizmente produzidos localmente, porque o grande é feio, vem do "sul", e custa de R$5,00 a R$6,00 o quilo) e tapioca com queijo coalho.

Tapioca e o pacote de litro de abacaba.


Cacho de bacaba (já caído)


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Após uma semana preocupada com minha nutrição por aqui, acho mesmo é que vou comer muito bem por estas bandas.
comida+Amazónia=palmeira

Bom apetite!

3 comentários:

  1. Ôh, inveja de ti. Inveja das boas, de querer estar aí também, experimentando as coisas nativas daí e exóticas pra quem é daqui.

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  2. nossa... quanto às questões alimentares, vou ter que discordar violentamente das suas opiniões: sempre achei que comer ou não carne é um elemento opcional para identidades pequeno-burguesas. O povo quer é proteína, e não tem dinheiro prá comprar.

    mas é perigoso dizer isso, ainda mais para quem a gente não tem assim tanta intimidade: já perdi muitas coleguices por conta de não perder a ideologia da boa carne mal passada...

    como boa nascida da terra interiorana paulista, prezo por um churrasco como maior apreço de cultura local, e o ápice da sociabilidade festiva e familiar. já os congelados, ou os sucos maguary, graças a deus passaram longe de minha infância interiorana com vós e tias muito bem dadas à cozinha: de bolo de fubá a pé de acerola e jabuticaba no quintal.

    chegando na faculdade, aderi ao bom estilo universitário padrão: o restaurante mais barato é sempre o bão. me aproximo do espírito vegan apenas no meu talvez melhor estilo restante da origem caipira: o sonho de ter um quintal com pé de acerola e uma hortinha de cenoura!

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  3. Eu não sou pregadora do vegetarianismo. Acho que cada um come o que quer. Mas ra mim foi mágico de fato poder viver sem mais comer isso.
    Esqueci de adicionar que também nunca gostei de gelatina.
    Ah, e não preparo carne! Não mesmo!

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