domingo, 10 de março de 2013

A Conferência Internacional de Agricultura Biodinâmica

Agora em fevereiro saí da Itália e fui para Basel, Suíça, para a Conferência  Internacional de Agricultura Biodinâmica, que na verdade aconteceu em Dornach.

Pra quem nunca ouviu falar disso antes, a Agricultura Biodinâmica é um tipo de agricultura orgânica, mas que se fundamenta na Antroposofia e foi fundada a partir do curso agrícola ministrado por Rudolf Steiner em 1924.

Já falei brincando para amigos que é bruxaria aplicada à agricultura, já que muitas vezes o que é mais marcante das técnicas são os preparados biodinâmicos, que vão desde enterrar chifre com esterco antes do inverno (para o preparado chifre-esterco) a enterrar tripas de vacas recheadas com flor de camomila, além é claro, de usar as fases da lua e os movimentos planetários.

Eu sei que a primeira vista tudo isso parece coisa de maluco, hippie, bicho-grilo. Mas há sim uma lógica por trás desses ensinamentos, e pesquisas que começam a demonstrar cientificamente alguns resultados. Porém, falar com agricultores que começaram a fazer isso e tiveram excelentes resultados é a melhor maneira de ver como a maluquice funciona.


Preparação do Chifre-esterco em Botucatu, Maio de 2012.
Preparado de camomila, Maio de 2012.

Os princípios das forças terrestres e cósmicas, equilíbrio de solo, e muita coisa mais é que fazem a biodinâmica.

No Brasil, o Grupo Elo, em parceria com a Associação de Agricultura Biodinâmica, coordena uma pós-graduação e curso de extensão sobre o tema. Recomendo fortemente aos interessados apesar do elevado curso. Há possibilidade de bolsas parciais para os estudantes clássicos, e integrais para agricultores.

Mas vamos de volta à Suíça.

O Goetheanum
Olhando para as fotos um mês depois da viagem a imagem do Goetheanum me lembro das palavras de Ana Paula em seu trabalho de fenomenologia, falando sobre os cristais.

A primeira vista, o Goetheanum tem uma frieza, não só pela neve que circula seus pés no inverno, quando a terra está dormida.  É nos tons de cinza, na frieza do concreto, nas janelas pequenas, que ele se mostra enquanto rocha, mineral.
O Goetheanum, em fevereiro de 2013
Mas aí por dentro, como numa rocha de cristal, que brotam suas cores nas paredes, vitrais, a luz que iluminam salas, corredores. Tudo aquilo que reside, mas só podemos ver quando adentramos a seu interior e o expomos à luz.

Cores e símbolos

O Grande Salão (foto de http://ih2.redbubble.net/image.4412389.1964/flat,550x550,075,f.jpg, porque é proibido fotografar aí dentro)
Escadas e andares coloridos



As esculturas

A famosa escultura "O representante da humanidade" fica guardada a sete chaves, numa sala muito bonita, com escadas e bancos em formato de arena para sentar, sentir, pensar, e agir.
O "Representante da humanidade". (imagem da Internet)
Este lugar é fechado, e fotos aí dentro são proibidas. Neste mesmo lugar, um artista trabalha numa réplica-maquete do primeiro Goetheanum, que pegou fogo no passado.

Porém, é neste ateliê que a maior parte dos trabalhos foi desenvolvido. É também aí que Steiner realizou a passagem, e deixou seu corpo físico.

Ateliê de Steiner. Foi também o prédio onde ele realizou a passagem e deixou o corpo físico.
Os experimentos para chegar a forma final desta escultura estão ainda lá, protegidos neste antigo prédio de madeira.





A oficina de Agricultura Biodinâmica e Agricultura Urbana

Na conferência (da qual só participei do último dia de quatro), me inscrevi para o workshop de agricultura biodinâmica e agricultura urbana.

A questão do último dia era como colocar em prática a relação entre essas duas coisas, e em especial, como forjar alianças para promover tudo isso!

Síntese de idéias
Muitas discussões surgiram.
E coloco aqui a reflexão na qual entrei quando cheguei.

O que é o urbano? 
-Um espaço onde estamos próximos (fisicamente) mas ao mesmo tempo longe (afetivamente).
-O dinheiro define acesso a todos os recursos que você terá acesso.

O que fazer?
Inspire people! 
Compostos urbanos biodinâmicos coletivos?

Da síntese do grupo, o raciocínio foi mais ou menos esse:
Mapa de ideias do grupo em que participei

A mudança das pessoas não vem pela razão, mas muito mais pela emoção. Para uma real mudança, é preciso tocar o coração das pessoas. 



Happiness is what happens!
(Felicidade é aquilo que acontece)

Skywatching! 
Meeting in the dark might bring some lightness.
Olhar o céu.
Encontrarmos no escuro pode trazer alguma luz!

A ideia que propus, como atividade de mobilização em cidades, é o simples olhar o céu.
Reconectar a cidade a natureza, aos ciclos. As luzes em muitas cidades, não nos permitem ver o céu, contemplar, com a escuridão, a luz das estrelas.
O céu também é unidade integradora. Ele é o mesmo, para todos.

O mais legal de um evento como esses, é que não custa nada. O grande desafio, é achar, nas cidades, estes espaços escuros, sem luz, em que as pessoas não tenham medo da violência, e se proponham, uma vez por mês, a parar, e observar.

O plano seria de que cada um, dentro da sua possibilidade, organizasse esse calendário de assistir ao céu (e não a Globo ou o Jornal Nacional, no Brasil).

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Um dos grupos trouxe uma abordagem bem interessante a partir da visão da Antroposofia e o papel de cada elemento nessa aliança.
Mapas mentais sobre biodinâmica e agricultura urbana
Físico - O que existe lá?
Etérico - Como eu/nós traremos os ritmos e ciclos saudáveis?
Astral - Como eu/nós equilibramos as 3 qualidades da alma?
Ego/Eu - Como eu/nós nos conectamos com o espírito de um lugar?


E da síntese geral do workshop?

Alliance & Allowance
Não basta construir alianças, procurar parcerias, trazer pessoas. É preciso abrir espaço, permitir que elas se integrem e ajam!

Aceitar as imperfeições das relações
Nas parcerias, as coisas não serão perfeitas.

Aprender a desapegar
É preciso saber deixar ir (let go). 

Equilíbrio de gênero e idades
Quanto mais equilibrado em gênero e gerações, melhor será a riqueza de um grupo, a diferença de olhares, as possibilidades de trocas e criações.

O papel da música e da arte!

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Para as pessoas que falam inglês, sugiro assistirem também as entrevistas feita pelo Tom Boyden, que escreve o blog Organic and Urban (também em inglês) com Maria Pietro e Bastiaan Frich, que coordenaram este workshop e são membros do Urban Agriculture Basel.
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Agradecimento especial a todos os mestres do Instituto Elo, e em especial a Deborah Beniacar e Andrea Dangelo que deram um grande apoio para eu estar lá.
Gratidão!

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