sábado, 16 de março de 2013

As caronas old School - Parte 2

A primeira primeiríssima viagem de carona que eu fiz foi também junto com o Greg, em um feriado.

Estávamos em Campinas, sem muito dinheiro no bolso, e pensando em ir pro Litoral. Desta vez, foi mais pela diversão e pelo aprendizado.

Não ponha roupas curtas ou decotadas. Uma calça com camiseta caem muito bem. Faça um cartaz de papelão com o destino que quer seguir, e lembre-se de embrulhá-lo em sacola plástica de verdura, só para aumentar a resistência do material no caso de chuva.

Nas costas, mochila, barraca, saco de dormir, e um bom pão caseiro com nutella e queijo (comida energética, vegetariana, de baixo peso).

A chegada até a rodovia (no caso, a Dom Pedro I), foi feita parte a pé, parte de carona. Uum amigo nos viu andando logo antes do viaduto da saída de Barão Geraldo, parou, e resolveu nos levar até a passarela em frente ao CEASA e Makro. Não sei se é o melhor local para pedir carona, mas na época foi.

Parou depois de alguns minutos, um caminhão que estava transportando corantes alimentícios para fazer os desenhos no biscoito Passatempo (sim, gasta-se muita energia só pra desenhar no biscoito passatempo) até o Rio de Janeiro. Ele não iria passar por São José dos Campos (casa dos pais, onde iríamos passar a noite) mas disse que nos levaria até um posto de gasolina onde certamente encontraria alguém que poderia nos deixar em São José. E encontramos.

Na época (outubro de 2007), pegamos carona com um funcionário da DERSA, que pegou alguns atalhos para furar os pedágios e dizia o quanto queria a privatização da rodovia, esperando melhores condições salariais. Até hoje me pergunto do porquê de ele ter furado os pedágios (visto que ele possivelmente não paga) e acho que era só pra nos mostrar e ensinar mesmo o caminho, como uma espécie de boicote ao sistema. No caminho, também consegui matar a dúvida do famigerado prédio no meio do nada ao lado do pedágio chamado PABREU.

Me disse esse moço (senhor), que PABREU vinha do nome Paulo de Abreu, dono daquelas terras, que decidiu construir o prédio ali pra dizer que a terra é produtiva, pois tinha ouvido rumores sobre a ocupação do MST. Nunca soube se isso é verdade.

Diria que as melhores coisas das caronas são as conversas e descobertas de temas, histórias e pontos de vista que não tem preço!

Passada as poucas horas de trajeto, nos deixou no posto de gasolina da rotatória do CTA, de onde tentamos e insistimos um pouco em tentar uma carona para o Litoral Norte. Mas com a chuva e o cair da noite, achamos melhor não seguir arriscando e ir para a casa dos meus pais tomar uma ducha quente e comer algo.

Na manhã seguinte, minha mãe nos levou a um outro posto, já na Tamoios, o famoso Vaca Preta. Foi-se embora, contrariada e sem entender o porquê daquilo. Eu e Greg começamos a conversar com as pessoas que ali estavam, contando a nossa história e que precisávamos de uma carona até o litoral. Queríamos acampar em Ilhabela. E sim, tivemos mais uma vez, uma carona. Um simpático casal de meia idade, que moravam em São Sebastião. A descida da serra teve direito à parada para lanchinho na beira de estrada, onde fomos praticamente proibidos de pagar. Ao chegar à São Sebastião, foi difícil convencer a nossos caroneiros que realmente queríamos acampar. Queriam nos oferecer um quarto para passar o fim de semana na mansão deles. (O senhor de meia-idade era representante de bebidas de uma marcar BEM famosa em todo o Litoral Norte).


Por fim, à fila da balsa da Ilha. E por mais que pareça história de pescador, reconheci de longe, o jipe Land Rover de um antigo vizinho. Tinha até lá colado um mapa da América Latina de um cartaz da ALCA que tinha dado para ele nos idos de 2002. Vai vendo a história. Ele, casado com uma canadense, levando um amigo para conhecer a praia de Castelhanos. E ali na balsa, pegamos mais uma das caronas, com o único veículo apropriado a cruzar as estradas de terra que cortam a ilha até Castelhanos, e a ótima notícia de poder reencontrar um amigo ao acaso e poder prosear da vida, ainda que em pouco tempo.

O trajeto
Chegando à praia, barraca armada, borrachudos, borrachudos, banho de rio, banho de mar, borrachudos, borrachudos. Meu amigo vai embora, como o previsto. A gente decide passar a noite, como previsto. Mas no dia seguinte, o tempo não abre, os borrachudos continuam atacando, e a gente decide voltar.

Mas pra voltar, a estrada já estava bem pior. E com a temporada prevista para cair, nós íamos passar a noite atolados no meio da estrada. Mesmo assim, começamos a caminhar. E eis que passa um grupo de motociclistas, e logo no início da trilha, subimos cada um em uma moto (sim, sem capacete), e seguimos a viagem até o outro lado da ilha, no porto.

A noite já caía. Tínhamos fome e frio, porque chovia. E a fila da balsa era algo de dar dó aos motoristas, porém também nos dava esperança de conseguir alguém para nos levar até São José. Bem menos fácil do que pensávamos. A noite foi longa. Muitos carros estavam muito cheios, sem espaço. Outros, tinham jovens casais em carros chiques que ou não eram solidários por essência, ou só tinham passado um mau fim de semana juntos. A chuva continuava, o tempo passava, a noite caía, e ainda não tínhamos nem carona, nem local pra dormir. Enquanto Greg pedia carona, eu tentava descobrir algum lugar onde poderíamos acampar.

Depois de muito, mas muito pedir e ouvir nãos debaixo de chuva, quase umas duas horas na fila da balsa, eis que depois de muita prosa, de checar informação, um semi-interrogatório para checar se as nossas informações pareciam coerentes, batiam, e não éramos bandido, um senhor de seus 40 anos e sua filha adolescente, nos levariam serra acima. Seguiam para São Paulo, mas desviaram um pouco para nos deixar perto da Dutra. Descemos com um grande abraço, e uma garrafa de vinho português debaixo do braço. Era um presente dele, distribuidor de vinhos, para a gente.

Um pouco de caminhada a mais, e casa. Banho quente, e pé de pão. Pé de pão é quando o pé incha muito. Um clássico depois de Ilhabela, por conta das substâncias que os borrachudos inoculam enquanto nos picam. Pode virar até alergia brava. E nesse dia, felizmente, tudo acabou em pizza delivery.

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Pai e mãe, desculpe a preocupação que fiz vocês passar.
Jovens, dêem um pouco de preocupação para os pais de vocês, e com cautela, se arrisquem em coisas parecidas. A gente só vive uma vez!
Experientes (para não chamar de velhos), se dêem essa chance de experimentar o espírito de solidariedade e aventura se nunca fizeram isso quando jovens. Sempre dá tempo.

2 comentários:

  1. Que máximo Natalie. Pena que só tivemos tempo aqui pra falar do Trocas, pelo jeito vc tem muitas aventuras pra nos contar... rs

    Abraços

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  2. Oi!
    Assim sem nome to tentando adivinhar quem é mas não fui muito longe!

    E em breve, preciso contar as aventuras de 3 anos na gestão do Trocas Verdes!

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