segunda-feira, 4 de março de 2013

Culinária (recuperando velhos textos)


Nos final de 2003 eu e mais 5 colegas de graduação decidimos montar uma chapa para o Centro Acadêmico de Biologia da UNICAMP, o CAB. Foi mais uma das minhas aventuras políticas da graduação, mas onde aprendi muitas das coisas que utilizo até hoje na minha vida pessoal e profissional.

Desde estratégias de comunicação/mobilização, mediação de conflitos, burocracias, agendamentos de reunião, questões jurídico-legais, e também a beleza da organização coletiva e da luta e apoio a ideais.

Pois bem. Nessa mesma época, decidimos criar um jornal para a comunicação junto aos alunos dentro do Instituto de Biologia. Outros jornais já existiram, e nossa maior inspiração era o "Papel com Letrinhas", de alunos da década de 90.

Assim sendo, no final de 2004 tínhamos a versão piloto desse jornal que chegou a durar alguns anos, com edições que saíam quando dava pra sair.

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Este texto foi originalmente publicado no Jornal Bocaberta. Na época, eu tinha uma coluna que se chamava "Vai Planeta".

Aqui na Inglaterra, pensando em segurança alimentar e política territorial, achei que valia a pena resgatar.

Culinária (Novembro de 2006)


Estava em casa num domingo questionando pela sei lá qual vez minha opção alimentar por não mais comer carne. Estava em crise na demora do preparo de um prato vegetariano: picando berinjelas, abobrinhas, tomates, cebolas, goiabas para um suco, hidratando PVT (Proteína de Soja Texturizada). Delícia. E um dos caros que mora comigo, ao meu lado, abre uma caixa de nuggets, um pacote de miojo, e pronto! Voilá! Estava pronta a refeição! E balanceada porque os nuggets “são” ricos em vitaminas e sais minerais.

Enquanto isso, eu preocupada em tentar ingerir alguns dos nutrientes que acabo deixando de lado quando passo uma semana comendo salgado de queijo, escarola e brócolis pelas cantinas da Unicamp. As opções vegetarianas são precárias na maior parte dos restaurantes.

Mas após algumas sinapses, tudo ficou claro: sem dúvida é mais fácil consumir carne hoje. O acesso foi facilitado. O distanciamento dos processos produtivos cria essas esquizofrenias de não sabermos a origem de quase nada. 

Pensemos num processo de produção de animais em um sistema de pequena escala ou subsistência. Você tem um pedaço de terra. Nesta terra você vive e produz seus alimentos. Se optar por criar animais, tem que dividir a área em duas: uma para plantar e outra para criação. A área para plantar deve produzir seus alimentos (Grãos, verduras, legumes, frutas) e talvez ração para os animais que cria. Aí com meses, anos, seus animais ficam grandinhos e você decide que eles vão para a panela. Não é só fritar. Primeiramente, você vai até o curral/galinheiro/chiqueiro e escolhe aquele que será sacrificado no dia. Depois, captura-o. E sim, você terá que matá-lo, afinal ele ainda está vivo. Escolha a sua opção: paulada na cabeça, mas não muito forte, porque pelo corte no pescoço tem que escorrer todo o sangue do animal bombeado pelo coração que ainda bate. Agora então faça um corte no tegumento do animal, e arranca-o. Abra o abdome, arranque as vísceras e lave muito bem. Agora pode começar a destrinchar. Escolha as melhores partes, e jogue os restos pros cachorros. Temperar, cozer e está pronto. Simples não? As bandejas do Pão de Açúcar e Super Barão facilitam a sua vida. Se quiser saber mais sobre o processo atual de produção de carne, convido-os a assistir A Carne é Fraca e/ou Earthling(Terráqueos).

A carne também é uma ferramenta na permanência de desigualdades sociais no nosso querido país. Carne de primeira, segunda e terceira. Qual você consome? Do frango, só o peito. Bem, o resto... Alguém deve comer.

Mas faço aqui também a defesa dos vegetais feinhos. A gente carrega pro supermercado nossos padrões de beleza e simetria. Um pontinho preto pode ser tirado facilmente.

Compre vegetais assimétricos e manchado. Eles também querem ser comidos.

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